domingo, 19 de dezembro de 2010

AICAI XXXVI

branco redentor
da nevoa salgada,
tuas lágrimas

sábado, 20 de novembro de 2010

AICAI XXXV

folhas que caem
entupindo caleiras
dos meus olhos

sábado, 9 de outubro de 2010

AICAI XXXIV

duas pétalas
adormecem felizes
sempre que sorris

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

AICAI XXXIII

春の草
空気をいっぱいに
過去と赤

homenagem ao verdadeiro estilo haiku, no qual divago, e no qual tentei com as traduções possiveis fazer um na sua verdadeira métrica. Ler-se-à talvez assim em Português:

a relva da Primavera
enche o ar
de passado vermelho

AICAI XXXII

em um segundo
esvoaçam eternos
os teus olhos

quinta-feira, 22 de julho de 2010

AICAI XXXI

esquece-te só
das teias de aranha
que pairam em mim

quarta-feira, 21 de julho de 2010

AICAI XXX

a água corre
em saltos enormes de
absoluta fé

quarta-feira, 14 de julho de 2010

AICAI XXIX

por um momento
a gota que escorre
é um pássaro

insónia

o inevitável e esbatido tecto
a abrasar-me todo o quarto
esforço-me e fecho os olhos
canso-me e abro os olhos

rodo, rebolo, enervo-me
tenho que adormecer
tenho que amanhecer
respiro, expiro, transpiro

tudo, tudo e mais alguma coisa
nada do que penso é sono
sonhos concretos e planos aéreos
que impendem o natural
sono sonhado.

a luz vem já de caminho
o mundo acorda daqui a nada
durmo só um bocadinho
respiro devagarinho

faço a respiração adormecer
deixo os membros entorpecer
seco os ouvidos de ruido
e fico a só comigo
terrivel companhia de mim
que não se cala
e não me deixa dormir

pesados deambulares
estranhos acompanhantes
pormenores insignificantes

acorda, já é tarde
a bexiga está cheia
a cabeça rebenta
o dia já vai a meio.

terça-feira, 13 de julho de 2010

absoluto

encontra-te comigo
na palma da mão
da ponte vermelha
que nos faz dois

sorrio-me contigo
no sonho etéreo
da fome cinzenta
que clama inépcia

escondo-me só
no ventre abafado
que apaga o fim

escondo-te sempre
no olhar absoluto
que é parte de mim

segunda-feira, 28 de junho de 2010

AICAI XXVIII

do fumo negro
que te enche o olhar
nascerá o sol

domingo, 20 de junho de 2010

AICAI XXVII

por seres sempre
por isso obrigado
por seres dia

quarta-feira, 16 de junho de 2010

AICAI XXVI

chorar felicidade
sem lágrimas salgadas
respirando-te

quinta-feira, 10 de junho de 2010

AICAI XXV

cala-te sono
aclara-te escuro
apressa-te dia

terça-feira, 1 de junho de 2010

AICAI XXIV

sopro de verão
quente e abafado
asfixia-me

sábado, 29 de maio de 2010

Papoilas, de mim.

Das mãos férteis e cansadas
dos olhos salgados e escuros
da boca seca e ansiosa
dos pulmões inquietos e melancólicos
de mim cansado e apagado
não nasce nada
se não papoilas selvagens
de versos vermelhos

dos dedos agitados e sonhadores
do olhar brilhante e atento
do sorriso quente e claro
do coração animado e feliz
crescem rúbeas papoilas
de versos selvagens

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Sono infinito

Deste vento da madrugada
Nasço rápido como a luz
Para vir cantar ao mundo fresco
Palavras do meu sonho
Descanso breve e pequeno do corpo
Êxtase cansativo da alma.
Sonho num sono silente e sossegado
Sonho só
Sono infinito

sábado, 22 de maio de 2010

AICAI XXIII

o vento sopra
na madrugada calma
dos teus cabelos

sexta-feira, 21 de maio de 2010

AICAI XXII

num rio lavado
da água que corre só
nasce a alma

AICAI XXI

apetece-me
sem sombra de vergonha
chorar um rio

quinta-feira, 20 de maio de 2010

AICAI XX

ponto por ponto
descrever-te apenas
a primavera

AICAI XIX

ver-te florescer
apaixonadamente
deixa-me sorrir

sexta-feira, 14 de maio de 2010

AICAI XVIII

levanta-se na
manhã fresca de maio
o infinito

sábado, 24 de abril de 2010

AICAI XVII

respirar lento
sussura aos ouvidos
o infinito

quarta-feira, 21 de abril de 2010

AICAI XVI

dorme um pouco
um horizonte azul
pinta-se sempre

segunda-feira, 19 de abril de 2010

AICAI XV

caminhar apenas
sete passos até ti
por um sorriso

sábado, 17 de abril de 2010

Primavera de flor adormecida

Com o peito a trovejar
chuva a escorrer nos dedos
com a força de mil anos
os olhos perdidos em mim

Os músculos tremem sem medo
com o vento que de ti sopra
abaixo do peito tudo se desfaz
acima do peito respira-se pouco

Esconde-te no teu olhar
arredonda o cabelo na orelha
e sorri daquela maneira antiga

Para que te possa beijar
e parar de engolir ar
para me alimentar de ti

sábado, 3 de abril de 2010

Ainda hoje, és tu.

É já irremediavelmente tarde
amontoa-se já demasiada areia
que corre sempre amargamente
desde que não é possível

Lágrimas fundas e amarelecidas
peitos cansados, desfalecidos
bocas secas, sem palavras
mãos retorcidas, vazias

Herança pesada de um dia
bagagem amarga de hoje
estrada cruel de amanhã

Corações cheios, eternos
Sorrisos inteiros,sinceros
um amor, de encher cadernos

quarta-feira, 31 de março de 2010

AICAI XIV

inspiro calmo
na cidade deserta
que me habita

terça-feira, 30 de março de 2010

esquisso

carregando no carvão da tua face luzidia
escureço-te de dentro para fora
numa espiral em recta com o teu sorriso
guardo-te o cabelo em tons amenos
e os olhos em tons do fogo que te faz


inspiro-me inspirando-te o ar
desenho-te desenhando-me o vento

num eterno sarrabiscar de alma
e coração negro e carregado
por ter em minha mão a sorte
de todo um sentimento, em fado.

segunda-feira, 22 de março de 2010

AICAI XIII

inspirar a flor
de uma primavera
anunciada

sincronização

palavras meias com as tuas mãos
parede inteira de um coração
ergo-me pleno, respiro-me
sereno emaranhado de veias
cheias de mim
batente vermelho desajeitado
agitado, indulgente
olhos negros, de cor
fervilham,
sem vapor, sem fúria
com amor
os meus encontram-te
no invisível calor

sexta-feira, 19 de março de 2010

vertigem

casca do tempo
palavra seca de
sentido
ganha no meu estômago
cores dos teus olhos ao
caírem nos
meus

terça-feira, 9 de março de 2010

AICAI XII

respirar lento,
brisa suave do peito,
doce coração.

terça-feira, 2 de março de 2010

AICAI XI

nos pequenos pés
que me fazem caminhar
anda o mundo

domingo, 28 de fevereiro de 2010

limão

naquele som quadrado das unhas no tampo da mesa
sai de mim talvez o enfado infinito das palavras
o cantar quase rouco mas só monocórdico de mim
extrai-o os dizeres de seus sentidos, os significados
dos seus lugares e caminhos. Desfaço-os no pó espesso
que faz toda a poeira poética. Invento e invento-me
invento fiel e pobre de luz. Desconstruo a luz e viro
o vento. Sou senhor e deus menor do piano imaginário.

Descasco um limão em cascas pequeninas
separo os gomos em pedaços imaculados
espremo as gotas uma a uma
e faço do limão, poesia.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

AICAI X

corpo cansado
ensopado, partido
respira fundo

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

AICAI IX

Uma gaivota
melancolicamente
chove sobre mim

estrela

faz demasiado sol
para que te veja
brilhando
de dia

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Beija-flor

Caminhando na escuridão de um tempo pequeno
uma cor demasiado calculada para dar vida
Semear no caminho flores de peito feito
e pássaros claros como Maio de antigamente
Cantar uma pequena lagoa de sal em
mil e uma cantigas de guitarras aceleradas

Respirar lentamente no silencio vazio
que se esquece das palavras por poder
que se despoja do calor ameno da voz
pela brisa fresca do sussurro adormecido
Caminhar na escuridão de um tempo pequeno
esfregando as mãos de um tempo grande
grande com a felicidade melancólica
de um pequeno pássaro
que beija voando
esbracejando
o tempo

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

AICAI VIII

desfazer a cor
que escreve a vida
em versos de três

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

AICAI VII

o sol que entra
pelo meu corpo fraco
desfaz -me de mim

domingo, 7 de fevereiro de 2010

AICAI VI

Neste gotejar
da chuva de inverno
sinto-me verão

AICAI V

Desta lua cai
toda a luz perfeita
para te sorrir

*para que talvez ainda não saiba: Haikai (em japonês: 俳句, plural Haiku ) é uma forma poética de origem japonesa, que valoriza a concisão e a objectividade. Os poemas têm três linhas, contendo na primeira e na última cinco caracteres japoneses (isto é, sílabas), e sete caracteres na segunda linha. Em japonês, haiku são tradicionalmente impressos numa única linha vertical, enquanto haiku em Língua Portuguesa geralmente aparecem em três linhas, em paralelo

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Época

A água escorre lentamente
num silvo grave e astuto
procuro algo menor com que me
preocupar, menos cabeça
orelhas, braços, pescoço, peito
costas, umbigo, escuro, quente
o vapor sobe e desce
fazendo-me dono do nevoeiro
morna, a água pára.
Abrir os olhos, secar o cabelo
entrar na camisola,
cair dentro das calças
desço,desço-me, respiro
o sol pelos olhos entupidos
café, café, chocolate,café
estômago vazio de sempre
a mão a escrever sempre
os olhos entupidos de sono
corpo entorpecido de calor
doi-me a cabeça, doem-me
mil cabeças, mil pensamentos
doem-me as orelhas de ouvir
doem-me os ouvidos de ler
conversas pequenas e atarracadas
sair, comer, para não comer
desesperar, arejar, fazer
fotossíntese.
Adormeço outra vez
em frente ao papel
adormecem-me os dedos
escrevo, rabisco, calculo
entro, ligo, distraio-me
olho, olho para tudo
não vejo nada, não vejo
ninguém
caminho, sozinho, desço-me
ao poço, num balde de madeira
queimo a corda e o balde
deito-me no fundo
noite adentro
afago-me, afasto-me,
afogo-me,
durmo,
até

domingo, 31 de janeiro de 2010

Conter

Se numa dança pudesse
destruir-te de tudo
dançaria noite fora
até cobrir o chão de suor
até me descobrir de raiva
me desfazer de tudo.

Danço tremendo
a dança tremenda
da agonia de me ver
privado de um sol
melhor.

Ensaio-me
ensaio-me sempre.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

AICAI IV

Contar o tempo
que o sol nos percorre
com dedos meios

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Cidade, ou carta para uma musa.

Imagino a cidade deserta, cheia de vazio
pronta ao meu atrevimento sobrevivente
escavando-a de memórias.
Podes cair se quiseres, baixar os braços
e tudo o que em ti te enche
A minha frágil memória é tua por inteiro

passo-te a mão por todas as franjas no horizonte
conheço-te todas as fachadas
prevejo-te os movimentos, os respiros,
as cores que se mudam nos meus olhos
as cores que mudas nos teus semáforos
as luzes de que te maquilhas
o pó que te sobrevooa

é minha a tua memória, do que me consegues
contar
és minha nos espaços em que posso habitar
em que co-habitamos o respirar

música cheia e prolongada
que enche toda a minha escrita
cheiro forte e misterioso
que vejo em todo respirar
cócegas amenas e húmidas
que ecoam do teu olhar

viagem eterna e cíclica
onde habito e respiro
em que me respiro
em que me encontro, sem
me procurar

como o cheiro da almofada que se enche da minha saliva
assim tu, cheia do meu pensar,
enches-me do meu próprio
respirar.

AICAI III

Num sorriso só
encho de alegria
ambos os pulmões

progressão geométrica

Quadrado a quadrado desfaço-te e
desapareço-me contra o fundo pálido
Lado a lado encontro-te e
olho-te seguro do meu peito
Frente a frente escolho-te
para me felicitar, a minha fortuna.

Escada a escada. Contigo.
Dia a dia, comigo.
Cresce-te contra mim.
Ama-me contra ti.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

AICAI II

o ovo pinta
a gema amarela
onde eu vivo

caderno

olhos fechados na alma enregelada
dedos fechados na palma amedrontada
choro fechado na calma foçada
coração trancado no tempo

eu na sala fechada de mim
sala plena de silêncio
silêncio acordado sonolento

vou segurando um lápis amarelo
não como uma espada
mas como um lenço
cheio de lágrimas e mágoa.
Sou um poeta forte
mas a poesia não é uma luta.
Só a vida.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

dorme corpo, humano

pum pum pum pum
vai-se passeando o sangue
espalhando-se pelo meu corpo
bam bam bam bam
escorrendo das minhas artérias
palpebras fechadas, labios
abertos desconsolados, abafados
maxilares unidos, estalam-me
os ouvidos
sopro contra o ar
inspiro e sinto o sangue
quente, ruborizado
fecho os olhos
deixo-me dormir
lentamente
como quem morre
de um dia mais.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Vício

notas do meu piano alfanumerico
que acarinho gentilmente em bufetadas
o povo pequenino feito de mim
as letras que fazem palavras que
me fazem a mim
que as faço a elas

pescada circular e viciosa
viciada

vicio de sentimentos
do que nos separa de tudo
invisíveis palavras
das minhas mãos quando te afago
transformadas em borboletas vermelhas
das minhas mãos quando te escrevo

quando martelo pesadamente nas teclas
pretas e brancas que formam letras nos
meus cadernos meio acabados
começados e desorganizados
reflexo da minha mão que reflecte a minha vida
ciclo-de-rabo-na-boca
vida de mão no coração
de coração no papel.

domingo, 17 de janeiro de 2010

AICAI I

lá fora chuva
lambe as folhas verdes
da esperança

sábado, 16 de janeiro de 2010

não há monstros no armário

cerro os olhos para guardar o sal cá dentro
fecho as mãos nas palmas manchadas de sangue
trago os joelhos à barriga inquieta
chorei, não choro mais. Nunca

mais
tarde, tarde de mais. Não vou a
tempo de emendar nada disto
o armaário cheio, cheio de tudo que tenho
para fazer, ontem e anteontem.
Não digas nada, faz de conta que tudo é normal
Tenho que sair e acenar
nas escadas que descem da minha porta
aceno e sorrio
como o presidente recém-chegado
que destruiu tudo sem arrependimento
arrependo-me com sorrisos falsos


junto os dedos na palma da mão
cravo as unhas na carne mole
faço os punhos voar no vazio
encho os pulmões
choro, outra vez.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Olá

dizer-te só
uma palavra pequena
num sentimento tão grande
num tempo tão distante
numa terra tão longínqua

Este sou eu hoje.

Nesta hora de sono avançado sobre a cabeça
queria talvez guardar em plástico selado
a memória de hoje como um dia normal
para me poder ver hoje em plástico selado

Mandem parar o tempo para que possa regressar
e gritar-me aos ouvidos
tudo o que deveria fazer.

Queria-me gritar tanta coisa de ontem
grito-me devagarinho, num desenho lento
sem cor nem feitio
que se vai esbatendo na claridade
que amarelece a fotografia de mim.

Este sou eu hoje.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Anda D.

Caminha num fundo vermelho
do pôr-do-sol de verão
sorriso quente de um final de dia
de nariz alto e feliz
os pés suspendem-se no ar
felizes de caminhar
seguros já.

Caminha na areia gasta dos anos
no caminho invisível de ver
sorri sempre de brancura redentora
para o meu sorriso apaixonado.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Respira fundo

Queria uma fotografia de lados em redondinho
a preto e branco num baloiço de madeira
Um filme em filme, projectado numa parede
de um baloiço a baloiçar, sozinho
o sol por trás carregando a parede em amarelo

Percorrer a relva com um carro de lata
percorrer o céu com um avião de papel
percorrer-me no rosto um sorriso de esguelha

Queria uma cassete, cheia de histórias de encantar
cor-de-laranja como o xarope da tosse
um prato de plástico, com coelhos e cenouras
cheio de cenouras e batatas
e um peixe ainda a nadar

Encher-me de nostalgia
encher-me de ser feliz
encher o peito de felicidade
e respirar fundo.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Video - gelo no vidro

Para celebrar a centena de poemas publicados:

Sem

Agarrar nisto tudo.
Agarrar nisto tudo daqui pra fora
Para que me vejam,
para que me leiam
quero ser lido
quero ser odiado

palavras pequenas em livros grandes
que estou farto de palavras grandes
em palcos pequenos

por minusculas que sejam as minhas palavras
por pequeno que seja eu num universo literario
sou eu
e eu
escrevo!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Criar

um som tão claro
como a fala seca
das folhas castanhas
que caem douradas

uma dança tão límpida
como o primeiro ondular
das papoilas de Abril

uma imagem tão transparente
como o sol
a incediar o mar
no final da praia

um filme tão puro
como a neve derretida
escorre atentamente
de uma caleira enferrujada

criar a beleza de um mundo inteiro
num só sopro abafado dos meus dedos
contra as letras.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Silente

sacudo o sono permanente
daqui pra frente
tudo diferente

sonho
de encontro a um tempo
medonho

espero-me e desespero-me
um novo ano
um novo começo
uma nova vida

tudo velho
sonho velho
mas sonho de novo


Amanhã tudo novo,
amanhã,
sempre amanhã.