terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Cidade, ou carta para uma musa.

Imagino a cidade deserta, cheia de vazio
pronta ao meu atrevimento sobrevivente
escavando-a de memórias.
Podes cair se quiseres, baixar os braços
e tudo o que em ti te enche
A minha frágil memória é tua por inteiro

passo-te a mão por todas as franjas no horizonte
conheço-te todas as fachadas
prevejo-te os movimentos, os respiros,
as cores que se mudam nos meus olhos
as cores que mudas nos teus semáforos
as luzes de que te maquilhas
o pó que te sobrevooa

é minha a tua memória, do que me consegues
contar
és minha nos espaços em que posso habitar
em que co-habitamos o respirar

música cheia e prolongada
que enche toda a minha escrita
cheiro forte e misterioso
que vejo em todo respirar
cócegas amenas e húmidas
que ecoam do teu olhar

viagem eterna e cíclica
onde habito e respiro
em que me respiro
em que me encontro, sem
me procurar

como o cheiro da almofada que se enche da minha saliva
assim tu, cheia do meu pensar,
enches-me do meu próprio
respirar.

4 comentários:

styska disse...

cannot comment. just smile blissfully. :)*

Anónimo disse...

..até suspendi a respiração enquanto lia o poema!... Mas que POEMA!!...
Já és o meu poeta preferido!.
mamy

Sílvio disse...

É sempre bom termos motivos para escrever.

Just keep going.

Diana disse...

Gosh! Adorei, mesmo...