quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Cuidado não caias, D.

Lá ao fundo a água lambe a areia
já ela esmaga-a contra o passeio
nos passos desajeitados de baleia
vai abanado os braços em recreio
e tu, assustada, fazes uma cara feia
e torces-me a mão toda em receio
eu sorrio, vendo apenas uma sereia
que ainda não se habituou ao meio
Por onde passa, sorrisos semeia
até na senhora de negro que hoje veio
De tudo que faz escreve-se uma epopeia
e tudo começou bem no teu seio

Simples

Vem e diz
sorri feliz
sorri comigo
Eu, contigo
vê felicidade
deste lado
pinta alegria
nas paredes do dia
enlaça-me o peito
num abraço perfeito

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Borboleta

O tempo levou-te
e já não te sei encontrar
o tempo levou-te
e não te sei procurar
o tempo levou-te
ou foi o sal do mar?
o mundo levou-te
sem nada me perguntar

Não sei se a mágoa
não sei se o esquecimento
não sei se a água
me terão levado a mim no tempo

Só sei a dor
sá sei o que me deixaste
só sei o calor
dos sorrisos que espalhaste
só sei supor
que do meu te cansaste
e já não sei a cor
da flor que outrora regaste

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Porta-te bem D.

A menina sorri ao longe
o baloiço passeia o ar
um balão quase que foge
o vento sopra devagar
o miudo suja o traje
a mãe a esbracejar
o gordinho nem reage
na areia a escavar
o cão que o proteje
levanta só o olhar

Os gritinhos pintam
a felicidade em murais
aqueles que gritam
sorriem demais

Os sapatinhos pretos de verniz
reflectem-nos a nós
Tu sorris

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Ama vezes três

Ainda que as letras se sujem
Mesmo que as palavras se amarguem
Até se as frases apodrecerem

Ainda que todos os livros ardam
Mesmo que os dedos do mundo se partam
Até se todos os escritores morram

Ainda que a terra se esqueça do calor
Mesmo que o universo seja só dor
Até assim eu te poderei escrever,

Amor.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Medo Desmedido

Berra aos ouvidos de toda a gente
cospe na cara do mundo doente
rasga do pescoço a pesada gravata
larga no chão a dor barata

O medo, o medo
queima e teima
pinta o olhar de azedo
fuma e exuma
todo o desprezo
derrama e inflama
no peito o apego

Queima as pestanas numa embuscada
mata a felicidade numa pancada
deixa em ti tudo fodido
fica a ecoar só o som de um ganido

Medo Medido

Ferra os dentes no sol quente
cerra os olhos no olhar que mente
Enche o peito do fogo que mata
deixa no chão a verdade que falta

O medo, o medo
rói e corrói
treme em segredo
moi e remoi
e tudo pinta de negro
doi e destroi
e não deixa em sossego

Bate as palpebras em retirada
respira fundo de dentro do nada
fecha em ti o mundo branco perdido
elimina do som todo o ruído