terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Noite imensa

Cartas do meu fundo
amontoam-se no mundo
As velas que em mim ardem
são os olhos de quem perdi

Fumo revolta-se
o céu aclara-se
a fé que me deixaram
cai na terra com a dor

Ouço um dia
cheiro a tarde
perdi-me da cor que guia
já não sinto estrada

Tudo é escuro
e sem sentido
o chão duro
e partido
o suor puro
escorrido
queima o futuro
já ardido

E o vento sobe
chove
a lua chora
e cai
o ceu triste e negro
deixa no chão
a vida imensa

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Praia

Chegar e palmilhar a areira
sentir nos lábios a maresia
Os olhos cerrados temem a poeira
os ouvidos rodopiam na poesia

os dedos percorrem a linha do mar
os corações batem desefreados
a lingua parece ficar sem ar
o peito troca recados

O amor enche o céu de vermelho
os pés enrolam-se nas ondas
e os dedos amarrotam-se de velho

Até que toca o sino das lendas
deitas-te e o sol enche-te de calor
e eu guardo-te no meu amor.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Verde

Se ouvires o mundo a vencer
deixa no chão a tua vitória
guarda a derrota no teu ser
e lava os olhos da glória

Se entrares no comboio da desgraça
não leves lágrimas na bagagem
entristece-te em plena farsa
mas brilha-te em sorriso toda a viagem

Não te comovas com o mundo
guarda-te bem no teu interior
não te reveles por um segundo

Faz de ti um verde flor
guarda o vermelho lá no fundo
e ignora se tudo o resto perde a cor

Fado

De dentro de um quarto quadrado
encho de negro todo o meu fado
deixo que se decomponha o estado
e dedilho-me todo num bordado

Do fundo de um crânio fechado
queimo em gasolina todo o meu fado
escondo o me coração recortado
e faço do peito um verde prado

Da réstia de um ser cerrado
faço renascer todo o meu fado
revisto o peito de contraplacado

Do interior de um ser renovado
passa a ser brilhante todo o meu fado
e no caminho não há cor senão dourado

segunda-feira, 28 de maio de 2007

7 segundos

Sem o vento sequer lhes tocar
larga no meu ouvido o teu amor
doce como o amarelo de uma flor
em mil palavras no azul a sibilar

Antes de o sol a vir secar
escreve-me esse teu cheiro
transcreve-mo por inteiro
na areia lambida pelo mar

Deixa que se esconda o luar
e pinta no céu mil corações
com estrelas e constelações
que fiquem sempre a brilhar

Espera que o rio corra devagar
tinge nele o teu luzente reflexo
com todo o teu rosto complexo
e o teu imenso sorriso a navegar

Deixa-te florescer em pleno ar
explode-te agora em mil cores
rodeia-te de divertidas flores
e de mãos dadas deixa-te dançar

Sem o sol as vir respirar
Larga as mãos no meu papel
espalha-as por toda a minha pele
e desenha-as a carvão no meu olhar

Antes que a sombra te decida pisar
deixa-te ficar inteira em mim
fica cá dentro até que o fim
se esqueça que tem de te levar

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Conjuga-me

Ouve e rodopia os pés,
deixa no chão o teu amor
pinta-o em flores e estrelas
voa-lhe a cor vermelha.

Dança no meu olhar
dança no meu peito
escreve-te toda em mim
mas lê-me em ti também

Rebusca-me no teu beijo
faz de mim sabor do teu peito
carrega no teu olhar o meu amor
fecha a mão, fecha a mão
e guarda lá sempre o meu cheiro.

Deixa no vento as lágrimas
para que não aclarem o vermelho
deixa-as riscarem-te a cara
desde que intacto o coração.

Faz-te como eu, faz-te minha
faz de mim o teu mundo
faço de mim a tua vida.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Ar-te

Ler-te, Sorrir-te, Falar-te, Gostar-te,
Ver-te, Ansiar-te, Conhecer-te, Gostar-te
Acompanhar-te, Acarinhar-te, Gostar-te
Sufocar-te, Perder-te, ainda assim Gostar-te
Encontrar-te, Olhar-te, Beijar-te, Gostar-te
Respirar-te, Morar-te, Ser-te, Gostar-te
Amar-te, Amar-te.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Coro Fúnebre

Há uma espécie de jardim
com mármores esculpidas
no chão cresce uma erva ruim
as árvores todas torcidas
E do portão não se vê o fim
As estátuas parecem perdidas
Com os pés cercados de alecrim
As suas caras tão sofridas
parecem fazer um motim
As campas parecem cuspidas
directamente do infernal festim
Destoa um anjo de asas estendidas
Suas vestes parecem cetim
Aos pés crescem-lhe margaridas
E sete flores carmim
As suas mãos bem polidas
Seguram bem alto um clarim
À sua volta as jazidas
parecem cantar assim:

"Vinde até à vossa morte
desisti de toda a sorte
Atirem-se no buraco do mundo
Que vos enterram num segundo"

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Aconteço-te 7 Vezes

Encontrar-te assim minha
como se eu te moldasse
Seres o que queria e não tinha
ver tudo o que desejo na tua face

Trazeres no peito o meu sabor
Fazeres do meu o teu olhar
Sorrires sempre o meu amor
Pores no teu céu o meu luar

Encontrar-te assim em mim
como se encontra um gosto
descobrir-te no meu fim
reconhecer-te no meu rosto

Falar-te com a voz do meu peito
Explicar-te uma vida em momentos
Mostrar-te como sou imperfeito
Sem receio de julgamentos

Nunca largo da memória
A noite em que me abriste a porta
Em que a tua paixão foi notória
Em que me julguei gaivota

E ainda hoje te guardo
Aquele primeiro beijo
denunciador do nosso fado
prenunciador do nosso desfecho

Fazemo-nos assim por inteiro
Construimo-nos sem medo
Damos passos sem pensar no primeiro
Brilhamos o amor do segredo

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Sobre Voar-te

No manto branco que te cobre o corpo
Desenho flores e corações com beijos
A minha felicidade corre num sopro
E nos meus olhos brilham desejos

O vento que te sopra o rosto e a fonte sombria
Espalha-te o frio por toda a tua pele quente
Enche-te os braços de pontilhados e arrepia
Traz os meus dedos de volta ao teu presente

O sol aquece-te então com o meu calor
Rebenta-te o sorriso como numa flor
Trabalha-te o peito com o meu amor

Rebola pelas costas uma fina gota de suor
Enchem-se as mãos de um fingido pudor
E num inteiro abraço se amarra o torpor

terça-feira, 27 de março de 2007

Suor Frio

Do meu esforço
Custa mas eu tento
o nó no pescoço
o tremer lento

Apago a face
corto os dedos
espero que passe
não penso nos medos

Engulo nada
Busco o sorriso
a voz quebrada
o rosto liso

Vou conseguir
pintar-me de branco
não parar de sorrir
ver só o encanto

Não tremo mais
respiro outra vez.

sexta-feira, 23 de março de 2007

Enche-me

De abraços e beijos
de felicidade e alegria
dos meus caprichos e desejos
de brincadeiras e fantasia

De olhares e sorrisos
de festas e carinhos
de dedos indecisos
e mãos que dão miminhos

De amizade e amor
Enche-me aqui e agora
de ti e do teu calor


Enche-me sem demora
do teu cheiro, do teu suor
Enche-me dentro e fora.

quinta-feira, 22 de março de 2007

Som

Roda sob o tecto
Rasga-se, rasga-se
o ruído redondo
parece que está perto
rompe-se, rompe-se
e desliza até ao fundo

Um tambor incerto
ouve-se, ouve-se
e dura só um segundo
ribomba grave e secreto
teme-se, teme-se
como um respirar profundo

Um agudo inquieto
estala-se, estala-se
contra o mundo
um ruido completo
cala-se, cala-se
num silêncio fecundo

terça-feira, 20 de março de 2007

Morte Colorida

Há um preto, um azul
há um escuro a sul
Há um estertor
aterrorizante, de dor
Um anuncio de morte
há um vermelho, um corte

Dança de sapatos lacados
os peitos num corpete, apertados
A saia grande ondula larga
a barriga vê-se amarela, amarga
O cabelo ao vento, verde
a boca de branco, cheia de sede

Tem um olhar assassino nos olhos
mil facas escondidas nos folhos
Tem as unhas pintadas de roxo
no ombro pendura-se um mocho
e da boca sai-lhe a voz que lembra o fim
e numa linguagem podre diz assim:

"Aqui ninguém vive, nem sente
aqui ninguém fala nem mente
ninguém sorri, ninguém ri nem chora
aqui ninguem dorme, come ou mora
aqui o vento não chega nem vai
e a morte daqui não sai!"

domingo, 18 de março de 2007

Rasga-me

Lágrimas,
negras como corvos
dedos tremem,
como ramos nus ao vento
culpa, em
labaredas chega à garganta
dor, alimenta a fogueira
que me queima o peito

terça-feira, 13 de março de 2007

Poesia Primavera

Cheira a um novo dia,
Aquele que te anuncia
Cheira a calor e ao teu amor
Cheira à gota de suor
Que escorre do teu pescoço
Cheira a Março
A Abril e a Maio
Cheira ao voo de um papagaio
Levado pelo vento
Cheira a cimento
Lavado pela chuva
Cheira a relva
enxuta pelo sol

Cheira a flores,
cheira a mil cores,
cheira a verde e a vermelho,
cheira a joaninhas e abelhas
Cheira a andorinhas e pardais
empoleirados em estendais
Cheira a florestas
e borboletas
cheira a jardins
de orquideas e jasmins

Cheira ao castanho dos teus cabelos
cheira a casinhas de cogumelos
cheira a sandálias e corsários
cheira ao som de fontanários
Cheira a saias rodadas
cheira a duendes e fadas
Cheira aos teus beijos
cheira a espreguiçar e a bocejos
Cheira a tudo
Cheira a ti

segunda-feira, 12 de março de 2007

Oração

Que a tua pele encerre sempre os meus lábios.
Que o teu olhar guarde sempre o meu reflexo.
Que a minha mão te traga sempre a meu lado.
Que o meu calor te seja sempre preciso.
Que a tua boca me sussurre sempre carinho.
Que o teu peito grite sempre por mim.
Que a minha lágrima seja sempre da tua felicidade.
Que o meu beijo seja sempre o teu acordar.
Que a tua vida me traga sempre na preocupação.
Que o teu peito grite sempre o meu amor.
Amen

(abrev.)

<3(amor)
*(beijo)

Eu <3-te*

quinta-feira, 8 de março de 2007

Soneto de Saudade

Precisava só do teu olhar
que me batesses um qualquer defeito
da tua mão a aquecer-me o peito
do teu cheiro a guiar o meu andar.

Precisava só de voar
alcançar-te de qualquer jeito
tirar da frase o sujeito
e ser amor em vez de o falar

Quero-te já mil abraços
quero ter os teus olhos sábios
a mostrarem-me o que perdi

Rodopiar-te nos meus braços,
sentir o sabor dos teus lábios,
largar-me todo em ti.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Sensação

O sabor da tua pele
para sempre
gravado em mim
sabes-me a mel
ao futuro e ao presente
sabes a orquideas e jasmim

O cheiro dos teus cabelos
nunca deixa
as minhas narinas
cheiras a cogumelos
dôce de ameixa
romãs e tangerinas

O calor do teu abraço
nunca me larga
o centro do coração
aperta-me como um laço
como um uniforme, como uma farda
que uso por amor,não por obrigação.

O som do teu sussurrar
toca continuo
no meu ouvido
como o som de asas a voar
como o vibrar divino
ou o riso de um recem nascido

O brilho do teu olhar
fica cravado
no meu sorriso
sabe a noites de luar
montado num cavalo alado
que voa sobre o paraíso

quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Quinto

Toca, e treme
brilha e chora
passa e parte
em dois, em três,
em mil pedaços
que doem demais.

Dor, sofro, sopro e morro
em ti, em mim,
em nós.

Ele vem e explica-me
Explica-me a dor.
Ele vem e sorri-me
Ele, o Amor.

sábado, 20 de janeiro de 2007

Já não sei

Já não sei adormecer
se não me fechas os olhos
Já não sei escrever
se não te tiver nos dedos
Já não sei andar
se não me seguras a mão
Já não sei respirar
se não me apertas o coração
Já não sei ver
se não te tiver no meu olhar
Já não sei ser
se não te pensar
Já não sei os dias
se não me abraçares

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Em ti

No fundo dos teus olhos
voam pássaros de branco
pousa-se um sol vermelho
ecoam agudos de piano

No timbre da tua voz
soltam-se palavras em prata
correm risos de água
escondem-se sussurros de açúcar

No sabor dos teus lábios
vivem crianças a sorrir
crescem orquídeas em molho
tricotam-se carícias de lã

No cheiro do teu pescoço
explodem desejos de chocolate
emanam saudades de mil anos
criam-se laços de tecido cor-de-rosa

No calor do teu abraço
roda o mundo num segundo
florescem sorrisos de cristal
nasce o meu coração

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Inefável

Sorrio hoje um sol de Junho,
porque me fizeste a felicidade nos olhos
porque me trouxeste o calor no peito
porque me desenhas corações nos dedos
porque me deixas rosas no cheiro.

Assobio hoje um pássaro em Março
porque te sei assente no meu coração
porque te vejo em toda a parte
porque te beijo a cada instante
porque te trago no olhar

Sonho hoje uma nuvem de Dezembro
porque nos acolhe o calor do nosso mundo
porque nos enche a alegria dos momentos
porque nos sorri o futuro de mãos dadas
porque nos sabe tão bem o algodão doce

Fica hoje nos meus braços
porque o mundo que te gosto
me doi com cada milimetro
que o teu coração se afasta.