terça-feira, 18 de novembro de 2008

Estática

Os dedos voltam a fazer sentido
Escrever entre esta estática
Escutar este e cada estalido
Estática, estática, estática
Expirar de dentro este ruido
Subir descer respirar a estática

Poeirento, sujo, escondido
Vejo estrelas na estática
Esperando vejo-me perdido
A voar o cinzento da estática
Serpenteia dentro do ouvido
Eterna e permanente estática

O silêncio para sempre perdido
De tanto navegar esta estática
O som incolor ficou desenxabido
Sente-se até no peito a estática
A desfazer o coração já moído

sábado, 31 de maio de 2008

Cor Amor Mundo Vida

És o vermelho do meu coração
Pintas em mim a tua cor
Choves em mim o teu amor
deixas-te espalhar pelo meu chão

És o azul do meu mar
sal, água, profundidade
risos, beijos, felicidade
És a vida no meu olhar

És o verde do meu campo
relva molhada de Março
respirar, imenso, espaço
És a canção que sempre canto

És o branco das minhas nuvens
nelas desenhas flores e libelinhas
com elas escorres nestas linhas
és o mais precioso de todos os bens

És o cor-de-rosa dos meus sonhos
O sol e alegria da minha vida
mostras-me uma nova rua perdida
onde me encontro sem fantasmas medonhos

És cor
amor
mundo
vida

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Luz

Não prendas ao chão essa felicidade
Não abdiques nunca da tua liberdade
deixa a euforia no andar aos saltinhos
salta e não te importes com os vizinhos

Se os teus impulsos se tornarem escuros
São nadas, pequenos acidentes inseguros
não chegam a manchar a tua brilhante luz
que até a mais enegrecida das faces seduz

Guarda bem o teu interior
Usa sempre a tua alegria
Interioriza menos a tua dor

Grita ao vento o novo dia
Une-te aos laços do amor
Imprime em todos a tua magia

terça-feira, 20 de maio de 2008

Vou escrever o mundo inteiro

Amor desejado
espelho quebrado
tempo estragado
num fim esperado
o corpo esgotado
respirar cansado
de olhar molhado
sorriso congelado
perdido num fado

Ah!Como o peito teme!
como este corpo geme!
A lembrança dela treme
e o coração se expreme
e no peito se grava um M

Vou escrever o mundo inteiro
espalhar as letras pelas cabeças do mundo
tingir nas palavras todas as nações
gravar no universo um poema perfeito

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Ser Outro

Ontem quis ser pintor, actor
quis deixar as palavras de lado
ser realizador, cantor, performer
não precisar de parágrafos nem pontos
pousar as palavras na secretária
e escrever com tintas ou filmes ou notas
mas o que são notas se não palavras
o que é a vida se não uma palavra
gigante
e por isso guardo nos dedos
o gosto de novo de ser palavras
de cantar, filmar, representar
palavras de mim
fazer delas notas, planos, cores
e fazer de mim todos esses escritores.

domingo, 13 de abril de 2008

Receita

Corta-se o vento
em pesados urros
tritura-se o tempo
juntam-se sussurros

Espalha-se o medo
Desfaz-se a alma
Acaba-se o dia cedo
Agita-se bem a calma

Cobre-se toda a luz
Coze-se o corpo inteiro
e o panico que produz

Enfeita-se com receio
Corta-se às fatias em cruz
e esmurram-se no meio

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Negro e Solitário

eixaste-te partir num comboio
e eu não sei do teu sorriso
ainda ontem o teu peito
sonhava o mesmo sonho
tão negro e solitário

Deixas as palavras guardadas
num livro, numa arca fechada
e o calor do teu olhar quente
foge e eu gelo-me para sempre
num poço negro e solitário

Os meus olhos são poços fundos
os meus olhos são globos imundos
os meus olhos secam-se e choram
os meus olhos ficam negros e coram
num sono negro e solitário

Ainda não acordei da manhã
de inverno que se instalou
ainda não soube olhar
sem a lágrima toldar-me a vista
sem o amor negro e solitário

Deixa-te ficar na inércia do sentir
deixa-te sonhar no sono sem sonho
deixa-te cair na almofada dura e seca
deixa-te usar como instrumento sem uso
tu que sou eu, negro e solitário.

Little Princess Girl

Do desenho já não lembro a cor
Do sorriso lembro só o calor
É do cantar que lembro o amor
É de ti que eu lembro o interior

Da ida quase não lembro
Só às flores eu entendo
que sequem em setembro
espalhando-se pelo tempo

Ninguém te permitiu fugir
mas a ousadia deixou-te ir
deixou-nos o negro para sentir

Mas o negro não querias
a queimar-nos alegrias
e por isso sorrio, como tu sempre sorrias.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Escorre Esconde

Escorre veloz um frio gelado
Esconde-se o calor na lua
Escorre sangue do meu lado
Esconde a minha mão na tua

Esconde os olhos deste fado
Escorre de mim esta dor crua
Esconde-se em mim o pecado
Escorre o sangue na tua rua

Explode no peito o terror
Espalho no chão o respirar
Exsico de mim a dor

Espreme-se a luz do olhar
Exclui-se de mim o amor
Esgana-se a vida no ar

terça-feira, 11 de março de 2008

A chuva dos dias

Os dias comem os dias.
Anda mexe-te.
Vai para ali, vem para aqui.
Come,bebe, respira, vive,
escreve, estuda, escravo,
faz, trabalha, atravessa está verde,
dois minutos, João de Deus
sete minutos, Carolina Michaelis
Quem?

Luzes que passam sobre a tua cabeça
que passam ao lado do teu ombro
a cabeça encostada no ombro
corre! desce! sobe! morre!
Próxima paragem, última paragem
ementa para quarta-feira 12 de março
Celi na brasa com reboliço
horário, de trabalho, de estudo

Sono
Acordas na tarde, na noite
e de manha cedo
adormeces
hoje pouco
amanha nada
depois pouco
dormes cedo
cedo demais

Dormes no autocarro
pi-pi-pi-pi
as portas fecham-se
os olhos fecham-se
a mente fecha-se
pi-pi-pi-pi
paragens
paragem
não pares

o sol nasce
e põe-se
tu nasces e nasces e nasces
só te pões no fim
ainda é cedo
acorda
Levanta-te
anda

acorda

Descança
Deixa cair o sono
Afaga-me o cabelo
Quero dormir
Sonhos
Sonhos quentes de verão

terça-feira, 4 de março de 2008

Semi Soneto Sonhador

Quero ser corvo
e logo a seguir morro
Quero ser talvez um estorvo
e logo a seguir corro

Assobiar num poste de iluminação
bater asas e deixar cair penas
fazer uma canção

Quero plantar açucenas
quero que desligues a televisão
destruir o mundo de antenas

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Cuidado não caias, D.

Lá ao fundo a água lambe a areia
já ela esmaga-a contra o passeio
nos passos desajeitados de baleia
vai abanado os braços em recreio
e tu, assustada, fazes uma cara feia
e torces-me a mão toda em receio
eu sorrio, vendo apenas uma sereia
que ainda não se habituou ao meio
Por onde passa, sorrisos semeia
até na senhora de negro que hoje veio
De tudo que faz escreve-se uma epopeia
e tudo começou bem no teu seio

Simples

Vem e diz
sorri feliz
sorri comigo
Eu, contigo
vê felicidade
deste lado
pinta alegria
nas paredes do dia
enlaça-me o peito
num abraço perfeito

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Borboleta

O tempo levou-te
e já não te sei encontrar
o tempo levou-te
e não te sei procurar
o tempo levou-te
ou foi o sal do mar?
o mundo levou-te
sem nada me perguntar

Não sei se a mágoa
não sei se o esquecimento
não sei se a água
me terão levado a mim no tempo

Só sei a dor
sá sei o que me deixaste
só sei o calor
dos sorrisos que espalhaste
só sei supor
que do meu te cansaste
e já não sei a cor
da flor que outrora regaste

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Porta-te bem D.

A menina sorri ao longe
o baloiço passeia o ar
um balão quase que foge
o vento sopra devagar
o miudo suja o traje
a mãe a esbracejar
o gordinho nem reage
na areia a escavar
o cão que o proteje
levanta só o olhar

Os gritinhos pintam
a felicidade em murais
aqueles que gritam
sorriem demais

Os sapatinhos pretos de verniz
reflectem-nos a nós
Tu sorris

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Ama vezes três

Ainda que as letras se sujem
Mesmo que as palavras se amarguem
Até se as frases apodrecerem

Ainda que todos os livros ardam
Mesmo que os dedos do mundo se partam
Até se todos os escritores morram

Ainda que a terra se esqueça do calor
Mesmo que o universo seja só dor
Até assim eu te poderei escrever,

Amor.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Medo Desmedido

Berra aos ouvidos de toda a gente
cospe na cara do mundo doente
rasga do pescoço a pesada gravata
larga no chão a dor barata

O medo, o medo
queima e teima
pinta o olhar de azedo
fuma e exuma
todo o desprezo
derrama e inflama
no peito o apego

Queima as pestanas numa embuscada
mata a felicidade numa pancada
deixa em ti tudo fodido
fica a ecoar só o som de um ganido

Medo Medido

Ferra os dentes no sol quente
cerra os olhos no olhar que mente
Enche o peito do fogo que mata
deixa no chão a verdade que falta

O medo, o medo
rói e corrói
treme em segredo
moi e remoi
e tudo pinta de negro
doi e destroi
e não deixa em sossego

Bate as palpebras em retirada
respira fundo de dentro do nada
fecha em ti o mundo branco perdido
elimina do som todo o ruído