quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Época

A água escorre lentamente
num silvo grave e astuto
procuro algo menor com que me
preocupar, menos cabeça
orelhas, braços, pescoço, peito
costas, umbigo, escuro, quente
o vapor sobe e desce
fazendo-me dono do nevoeiro
morna, a água pára.
Abrir os olhos, secar o cabelo
entrar na camisola,
cair dentro das calças
desço,desço-me, respiro
o sol pelos olhos entupidos
café, café, chocolate,café
estômago vazio de sempre
a mão a escrever sempre
os olhos entupidos de sono
corpo entorpecido de calor
doi-me a cabeça, doem-me
mil cabeças, mil pensamentos
doem-me as orelhas de ouvir
doem-me os ouvidos de ler
conversas pequenas e atarracadas
sair, comer, para não comer
desesperar, arejar, fazer
fotossíntese.
Adormeço outra vez
em frente ao papel
adormecem-me os dedos
escrevo, rabisco, calculo
entro, ligo, distraio-me
olho, olho para tudo
não vejo nada, não vejo
ninguém
caminho, sozinho, desço-me
ao poço, num balde de madeira
queimo a corda e o balde
deito-me no fundo
noite adentro
afago-me, afasto-me,
afogo-me,
durmo,
até

3 comentários:

styska disse...

o peso dos dias é demasiado. *

Anónimo disse...

às vezes as "moletas" são mesmop necessárias, mas é mesmo só às vezes para fazer a ponte para o sentido.

Parabéns filho,
mamy

Diana disse...

ostei... Escusado será dizer que gosto quando escreves e do que escreves :)
E estando nesta "época" também, enquanto estou a ler os teus pensamentos dou por mim a imaginar os dias que tenho passado.. E já o li duas vezes!

Continuo a achar que devias publicar :) ahah assim mostravas a mais gente esse teu talento e alegravas os dias desta sociedade ou então davas-lhes na cabeça :)

Keep going Godfather :P *